sexta-feira, 24 de setembro de 2010

SAÚDE: A importância dos suínos em Medicina Humana

Por Luciano Roppa, Médico Veterinário.
Por acaso, você ainda faz parte do grupo de pessoas que acham que o suíno faz mal para a saúde? Bem, se você respondeu que Sim, está na hora de rever seus conceitos. É que muita coisa boa tem acontecido ultimamente no campo da medicina humana, e aquele suíno que você tanto critica, é hoje um dos grandes aliados da saúde do homem. Que tal perder um minuto do seu tempo e se atualizar sobre o assunto?

Sabe-se hoje, que por sua semelhança com o homem, várias partes do organismo dos suínos podem ser utilizadas em medicina humana (Figuras 1 e 2). Desde o fornecimento de substâncias vitais à vida do homem, até a doação de órgãos, os suínos são a grande opção da medicina para aumentar a sobrevivência das pessoas. No passado, os Macacos foram considerados a grande opção nesta área, mas acabaram perdendo sua importância, devido à sua lenta capacidade de multiplicação e pela probabilidade de transmissão de doenças. Só para se ter uma idéia da importância que os suínos podem assumir na área de doação de órgãos para o homem, estatísticas nos EUA mostram que no ano 2000, havia 67.000 pacientes esperando transplantes naquele país (44.000 para Fígado, 4.000 para coração e 3.600 para pulmões). Infelizmente, só 20 mil transplantes foram realizados. A pesquisa mostrou que mais de 100.000 pessoas, nem entraram nesta "fila de espera" e que milhares morrem todos os dias por falta de doadores. Hoje, nos EUA, existem apenas 7.000 doadores humanos potenciais por ano e a demanda por transplantes cresce na assustadora proporção de 15% ao ano. Diante deste quadro dramático, que nem relacionou as pessoas que necessitam um novo Rim, a busca de soluções no campo de xenotransplantes (transplantes de órgãos de uma espécie para outra) tem assumido uma importância inestimável. Lutando contra conceitos e preconceitos, a técnica continua sua evolução irreversível, buscando soluções mais eficientes e definitivas, para as pessoas que não encontram mais nenhuma esperança nos métodos tradicionais de cura.

Estágio atual do transplante de órgãos dos suínos para o homem

Para se realizar este tipo de xenotransplante (transplante de uma espécie para outra), são necessárias duas etapas fundamentais: a produção de suínos transgênicos e sua posterior clonagem. Suínos transgênicos são suínos que tiveram a sua carga genética alterada, através da introdução de genes de outra espécie animal, ou do próprio homem. Na prática, a técnica consiste em se selecionar um determinado gen humano que se quer copiar, e introduzi-lo no núcleo de um óvulo fecundado de suíno. Com isso, o suíno gerado a partir deste óvulo alterado geneticamente, nascerá com um gen humano, que produzirá substancias compatíveis com o homem. Os primeiros suínos transgênicos foram produzidos na década passada: em 1991, cientistas ingleses da empresa Imutran, injetaram DNA humano num embrião de suíno, e nasce Astrid, a primeira porca transgênica do mundo. Neste mesmo ano, pesquisadores da empresa DNX, de New Jersey, EUA, copiam dois genes que controlam a produção de hemoglobina no homem e os injetam em embriões de suínos. Ao nascer, os leitões apresentaram 15% de suas hemoglobinas iguais ao do homem. Elas puderam ser separadas das hemoglobinas dos suínos, devido às suas cargas elétricas diferentes, e puderam ser utilizadas como uma solução alternativa à falta de sangue para transfusões no homem.

A próxima etapa, após a produção dos suínos transgênicos, é a técnica da clonagem, que consiste em se realizar cópias idênticas de um mesmo indivíduo. Dessa forma, poderemos ter inúmeros suínos transgênicos, permitindo a produção em grande quantidade de uma determinada substancia, medicamento ou até mesmo de órgãos. A clonagem é uma técnica antiga, que ocorre naturalmente no caso de gêmeos univitelinicos e que já era efetuada artificialmente em sapos, ratos e coelhos. Ultimamente, depois da famosa experiência com a ovelha Dolly, a técnica ganhou um grande impulso e abriu uma nova era na geração de várias cópias de um mesmo indivíduo. Os 5 primeiros suínos clonados nasceram em Março do ano 2000 e foram produzidos pela empresa PPL Therapeutics da Escócia. Foram chamados de Millie, Cristha, Aléxis, Carrel e Dotcom, em homenagem à chegada do novo milênio, a Christian Barnard (Médico que realizou o primeiro transplante cardíaco), a Aléxis Carrel (premio Nobel da medicina) e à nova era da Internet, respectivamente.


O suíno como fonte atual de MedicamentosA técnica da clonagem de suínos transgênicos, apesar de altamente promissora, ainda está no início; porem, o uso de uma série de substancias do organismo dos suínos já passou pela fase de comprovação, e vem sendo adotado de forma rotineira na pratica da medicina humana. Os principais medicamentos originados do organismo dos suínos são:
Foto: bahianoticias.com.br




1- Insulina: O pâncreas dos suínos é um órgão do qual se obtém Insulina, um hormônio essencial para os diabéticos. Ele é encarregado de permitir a entrada de açúcar nas células e de diminuir a sua taxa no sangue, evitando dessa forma que atinja níveis mortais para o homem. Atualmente, a insulina é também produzida por engenharia genética, através da multiplicação bacteriana, porém a um custo mais caro.

2- ACTH: Da glândula pituitária do suíno pode-se obter o ACTH, que é um hormônio usado em medicina humana para o tratamento de artrites e doenças inflamatórias.

3- A Tireóide do suíno é utilizada para obter medicamentos que serão usados por pessoas que possuem glândulas tireóides pouco ativas.

4- Heparina: A mucosa intestinal dos suínos é usada para a obtenção de uma substância chamada Heparina, que tem propriedades anticoagulantes e é aplicada em medicina humana nos casos de tromboses.

5- Hemoglobina: Suínos modificados geneticamente podem produzir Hemoglobina humana (pigmento do sangue que leva oxigênio às células do corpo), como já comentamos anteriormente. Este produto pode ser estocado por meses, ao contrário do sangue normal, que se conserva apenas por semanas.

6- Surfactante: Do pulmão dos suínos, pode ser retirada uma substancia chamada surfactante, que é indispensável ao tratamento de bebês nascidos com a síndrome da imaturidade pulmonar. Sem essa substancia, que serve como um lubrificante, os bebês correm um sério risco de morrer por asfixia.





O suíno como fonte atual de Células e Órgãos

O uso de xenotransplantes do suíno para o homem começou nos últimos dez anos, onde varias experiências foram realizadas com sucessos animadores. Apesar de estar em seus primeiros passos, os resultados mostram uma alentadora esperança, para todos aqueles que padecem de enfermidades, até este momento, intratáveis. Os melhores exemplos desta evolução na medicina humana estão relacionados a seguir:

- Pele: a pele dos suínos pode ser usada em transplantes temporários no homem, nos casos de queimaduras de terceiro grau, que causam grandes descontinuidades de sua pele. Ela não serve para transplantes definitivos, devido à sua rejeição.

- Válvulas Cardíacas: O coração dos suínos é usado para fornecer válvulas cardíacas que serão transplantadas para o homem e as crianças. Os suínos usados para fornecer essas válvulas, pesam de 16 a 25 kg. Estas válvulas são retiradas do coração e conservadas num preparado químico, podendo ser preservadas por 5 anos. As válvulas cardíacas do homem podem ser substituídas por válvulas mecânicas feitas com materiais artificiais. As válvulas dos suínos, porém, têm vantagens sobre essas mecânicas, pois são menos rejeitadas pelo organismo, têm a mesma estrutura e resistem mais às infecções.

- Diabetes: Uma utilidade do Pâncreas dos suínos para o homem é a de fornecer ilhotas pancreáticas (ilhotas de Langherans) para implantes em pessoas diabéticas que não as possuem. Estes implantes trouxeram novas esperanças para os 140 milhões de diabéticos que há no mundo, pois dessa forma eles poderão ficar livres de injeções de insulina no futuro. Um dos trabalhos pioneiros nesta área foi realizado no México, onde 4 crianças receberam este tipo de xenotransplante, na Faculdade de Medicina da UNAM, e reduziram em 65 % sua dependência por Insulina. Isso ao custo de 2000 dólares, enquanto que um transplante (se houvesse doador) custaria 100.000 dólares.

- Recuperação de impulsos nervosos: Estatísticas nos EUA mostram que há mais de 200 mil pacientes com lesões irreversíveis na coluna vertebral e que a cada ano ocorrem 8 mil novos casos. Cientistas da Universidade de Yale (EUA) conseguiram restaurar a transmissão de impulsos nervosos na medula da espinha dorsal danificada de ratos, através do transplante de células de suínos, responsáveis pelos impulsos olfatórios ao cérebro. Este trabalho é a mais recente evidencia de que os suínos poderão ser a mais promissora fonte de células para a recuperação de lesões na medula espinal, pois eles estimularam a formação de novas ligações nervosas e alguma produção de nova mielina.

- Transplantes de Fígado: No ano 2000, havia 44 mil pacientes na lista de espera para transplantes de fígado, nos EUA. Xenotransplantes de fígado de suíno para o Homem, já haviam sido feitos anteriormente. Já em 1992, na Universidade de Padova, Itália, uma mulher de 33 anos recebeu o primeiro transplante de um fígado artificial, produzido à base de células modificadas de suíno. Afetada por uma hepatite fulminante, com o transplante conseguiu sobreviver por 4 dias, até que fosse encontrado um fígado humano para o transplante definitivo.

- Mal de Parkinson: Esta doença neurológica crônica afeta a mobilidade das pessoas e é causada pela perda de células produtoras de Dopamina, no cérebro. Em experiência realizada no Boston Medical Center, EUA, a equipe do Dr. Samuel Ellias implantou células de embriões de suínos no cérebro de 12 pessoas, em estado avançado da doença, na tentativa de aumentar a produção de Dopamina. Dez desses pacientes registraram uma melhora de até 19 % na sua mobilidade, abrindo uma nova esperança no combate desta enfermidade.

- Epilepsia: Outro resultado animador foi verificado no controle da Epilepsia: no ano de 1999, células de fetos de suínos que continham substancias inibidoras de convulsões foram implantadas no cérebro de pacientes epilépticos com convulsões intratáveis, na Universidade de Harvard (EUA). Após o transplante, houve uma redução de 40% na freqüência do problema, segundo o relato animador da equipe do Dr. S. Schachter, do Departamento de Neurologia dessa renomada instituição.

- Reconstrução de tecidos danificados: Pesquisadores da Universidade de Purdue, EUA, isolaram um material retirado de uma parte do intestino dos suínos, constituído de colágeno, proteínas e fatores de crescimento. Aprovado pelo FDA (órgão do governo americano que regulamenta o uso de medicamentos) para uso em humanos, este material possui uma poderosa ação de reconstituir tecidos danificados. Até o momento chegou-se à conclusão que ele tem eficácia contra ferimentos crônicos e incontinência urinária. Embora ainda não se saiba exatamente como estas substancias atuam, tem-se como certo que aceleram o processo de cura.

 


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